Organizadoras:
Ana Patrícia Sá Martins, Dorotea Frank Kersch, Glícia Azevedo Tinoco.
Este já é um livro pós-pandêmico. Talvez seja esperançoso demais afirmar isso, mas podemos dizer que o pior ficou para trás, uma vez que estamos a maioria vacinados e já percebemos a Covid-19 controlada, tanto quanto pode uma doença viral estar. As escolas há tempos voltaram às aulas presenciais, embora continuem respirando certo ar de perplexidade. As instituições mais comprometidas estão ainda refletindo sobre as experiências de ensino remoto emergencial, isto, é claro, quando fazem parte do rol das que tiveram esse privilégio (infelizmente é assim que chamamos a possibilidade de usar tecnologias digitais para segurar as mãos dos estudantes e suas famílias durante os tempos mais difíceis). Muitas escolas, em especial nas redes públicas, não puderam sequer oferecer aulas a suas crianças e adolescentes. E mesmo mergulhadas em tanta desigualdade social e econômica, além da educacional, mantivemos o importante ânimo de vivenciar situações desafiadoras sem perder a lucidez crítica e a curiosidade científica.
Esta obra nos chega neste contexto pós-auge da crise, mas ainda em tempos de cautela e atenção. As três organizadoras deste livro – Dorotea Frank Kersch, Glícia Azevedo Tinoco e Ana Patrícia Sá Martins – nos presenteiam com centenas de páginas de reflexão sobre as experiências de ensino mediado por tecnologias em várias partes do Brasil, mostrando um repertório de possibilidades, todas em escolas públicas, na educação básica. Um título como Esperançar para (re)agir não poderia ser mais preciso e mais afetuoso. Estão aí fundidas a esperança, a ação e a reação, além do estímulo que experiências como as relatadas aqui nos dão, isto é, inspiração para que continuemos nossa missão, que certamente precisa ser mais valorizada.
Este livro quer mostrar como os multiletramentos foram estimulados e aprendidos em escolas públicas brasileiras, por professores e professoras que, mesmo em meio à crise, mantiveram-se atuantes em salas de aula virtuais, em condições diferentes e desiguais, mas em pé de igualdade quando o assunto é dedicação e esperança. Não vou aqui apresentar os capítulos porque isso foi lindamente feito na Apresentação, pelas próprias organizadoras, mas quero apontar para alguns elementos desta obra que também merecem nossa visada emocionada: a retomada de um trecho de fala do Presidente Lula como epígrafe, as citações e menções a António Nóvoa e a dedicatória à professora Angela Kleiman, uma das expoentes dos estudos de letramentos no Brasil.
Bem, o leitor e a leitora estão agora diante da oportunidade preciosa de conhecer as (re)ações de colegas de toda parte de nosso país, em especial pessoas que se mantêm em formação, durante a crise e depois dela. Muitos gêneros discursivos são aqui abordados, em domínios como o jornalístico, incluindo-se a premente questão das fake news, além de cartas a um vereador, textos que exigem mais expressão de subjetividade, argumentativos, games, jamais perdendo de vista a educação para a cidadania e a emancipação. Aspectos fundamentais, como a multimodalidade, também estão presentes, assim como reflexões políticas e ideológicas das quais não podemos fugir, ainda que um conservadorismo tacanho ainda nos dirija ameaças. Trata-se de uma obra generosa e que certamente chegará para nos incluir a todos e todas em discussões e práticas que importam e frutificam. Boa leitura.